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Nasci no sul do Brasil, na cidade de Porto Alegre, no dia 24 de dezembro, véspera de Natal. Minha mãe dizia que eu tinha sido seu melhor presente de Papai Noel. Verdade ou não, eu até que acreditava. E procuro acreditar ainda hoje.

Fui criança como outra qualquer. Adorava brincar, adorava estudar. Mal ia entrando em casa, após as aulas, e já me sentava à mesa para realizar as tarefas. Dentre elas, a que mais me agradava era escrever. Aprendi cedo, antes mesmo de ingressar no colégio.
E acredito que o desejo de me tornar escritor um dia tenha nascido das brincadeiras infantis, em que a imaginação corria solta por mundos de faz-de-conta, em que caubóis conviviam com soldados, com mocinhas desprotegidas, com mulas-sem-cabeça ou lobisomens, com astronautas, fadas e duendes.

Caio Riter   Caio Riter  

 

Lembro também que era comum às professoras, quando retornávamos de férias, solicitarem uma redação cujo tema — muito criativo, aliás — era Minhas férias. Ora, o que escrever se eu, sétimo filho de uma família pobre, passava as férias em casa, brincando com meus amigos de rua? Se contasse o que realmente fazia nas férias, o texto ficaria tão sem graça. Então eu mentia. Inventava história de passeios à praia, ao sítio de um avô, uma viagem de barco ou de avião. Enfim.
Uma paixão nascida na infância foi a leitura. Eu, tímido que era, enveredava pelas letras e desenhos de gibis (eu tinha uma caixa enorme, cheinha de revistas em quadrinho) ou dos chamados pulp-fiction, que meu pai e minha irmã Maura liam avidamente. Depois descobri os livros. Ah, aí eu fui desbravando mundos fantásticos, sempre querendo mais e mais, sempre desejando ler tudo o que aparecia pela frente.

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Aí, uma vontadezinha foi crescendo, crescendo, e se fazendo dentro de mim. A vontade de ser escritor, de ver histórias minhas sendo lidas tão avidamente, como eu lia as de outros escritores.
Escrevia em cadernos, mas não mostrava para ninguém. E escrevendo, fui crescendo. A juventude chegando, mais e mais bibliotecas, e livros, e autores, sendo descobertos. Foi aí, acho, que pela primeira vez escrevi algo e permiti que fosse lido. Eram umas histórias de detetives (eu adorava os livros policiais da Agatha Cristie), em que os personagens éramos eu e meus amigos. Havia assassinato e tudo mais.
Bom, o fato é que meus amigos liam e se divertiam ao se verem nas páginas datilografadas que circulavam em nossos encontros. Vi que era bom ser lido. Vi que queria experimentar, cada vez mais, aquela sensação de criar mundos. Mas queria mais.

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Foi então que conheci a Laine. Uma pessoa especial, amorosa com os livros. A ela, mostrei pela primeira vez um texto sério. E ela, não sei se já apaixonada por mim (e quando a gente ama vai só vendo coisas positivas na pessoa amada) foi dizendo que o conto era muito bom. Acreditei. E a amei mais ainda.
Em 1990, participei de uma oficina literária. Um espaço em que escritores iniciantes conversam com um escritor já consagrado e ele vai dando orientações sobre a escrita. É um espaço bem legal, de troca, de experimentação, de busca de um jeito especial de escrever.
Todavia, eu não queria ser escritor de gente pequena. Queria escrever para os grandes. Só para os grandes.
Foi então que a Laine, agora já minha esposa, me disse que eu levava jeito para escrever para crianças. Será? Eu até duvidei. Ela insistiu algumas vezes. Eu neguei. Até que recebemos uma das melhores e maiores notícias de nossas vidas: estávamos esperando um bebê, um filho.

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Diante de tamanha alegria, eu decidi dar à Laine um presente lindo, bem lindo. Mas o quê? Queria que fosse um presente muito especial. Único. Que nenhuma outra mulher tivesse igual. Ora, se eu desejava um presente assim, percebi que deveria fazê-lo eu mesmo. Mas o quê? Mas o quê? Então surgiu a idéia: um livro infantil,um livro feito por mim mesmo.
E fiz.
Escondido da Laine, escrevi meu primeiro livro para crianças: O fruto verde. (Escrevi, desenhei e montei. Até hoje existe apenas um, só um. Jamais o apresentei às editoras para publicação. Quero que ele seja sempre um presente único.).
Quando o entreguei à minha mulher, foi emocionante. Surpresa boa, daquelas de tocar o mais escondido cantinho de nosso coração.

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E eu adorei a experiência. Então, passei a escrever e montar outros livros infantis. A idéia era fazê-los para que, quando nossos filhos crescessem (depois de um tempo descobrimos que seríamos pais de novo. Hoje temos duas lindas filhas: a Helena e a Carolina), tivessem os livros dos escritores para ler, mas tivessem também aqueles especiais, únicos, feitos pelo próprio pai.
Mas a vida, por vezes, traz surpresas agradáveis. E não é que o primeiro livro que eu publiquei, em 1994, acabou sendo mesmo um desses livros que escrevi para minhas filhas? Pois é. Chama-se Um palito diferente, que atualmente está esgotado. Depois dele, vieram outros: A menina que virou bruxa, em 1997, Pra lá e pra cá, em 1998, O tesouro iluminado, em 1999, Chico, em 2001, Um menino qualquer, em 2003, e O fusquinha cor-de-rosa, em 2005. Mas muitos outros já foram escritos, e tantos outros aguardam que eu os coloque no papel.

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Além desses livros infantis, escrevi livros para adolescentes também. Alguns deles foram inclusive premiados. Escrevi: A cor das coisas findas (2003), Atrás da porta azul (2004), Debaixo de mau tempo (2005), O rapaz que não era de Liverpool (2006) e O menino do Portinari (2006).
Hoje, tenho 43 anos e sigo morando em Porto Alegre, no Brasil. Amo ler e escrever. Adoro viajar e conhecer lugares diferentes. Amo minha mulher e minhas duas filhas. E todos nós adoramos livros. Há livros por todos os lugares em nossa casa e eles são motivo para muita coisa boa: fantasia, prazer, conhecimento, reflexão. Depois de lermos um bom livro, nunca mais seremos os mesmos. Eles têm um poder fantástico de mexer na nossa mente e em nosso coração, mesmo que a gente não se dê conta.
São mágicos. Feiticeiros.

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