Eu sou o José Vaz e nasci no dia 11 de Janeiro de 1940, em Avintes, terra da margem esquerda do Rio Douro, a cinco quilómetros da Cidade do Porto.
No tempo em que nasci, ocorreu a 2ª Grande Guerra Mundial e eu e os meus pais vivemos com muitas dificuldades. Por essa razão, quando era menino, não tive brinquedos mas, à falta deles, comecei a fazê-los por mim próprio. Aprendi a ser marinheiro de barquinho de papel e aviador de papagaio.
Com o barquinho navegava no turbilhão das águas nas bermas dos caminhos em dias de chuva e com o papagaio voava até às nuvens e imaginava-me a tripular um avião de guerra chamado Spitfire.
Encavalitado num pau de vassoura, imaginava-me cowboy solitário das inóspitas pradarias do Arizona em infindáveis aventuras que metiam sempre bandidos e malfeitores e eu, intrépido herói defensor dos mais fracos, quando me via atrapalhado com os facínoras, apontava o dedo indicador e disparava certeiro: Pum, pum! Matei-te!
Antes de ir para a Escola Primária, contactei com o meu primeiro livro. Não era um livro de histórias de encantar mas um livro que relatava um acontecimento importante para a história dos seres humanos no decorrer dos tempos. Chamava-se a "Tomada da Bastilha".
Não o li porque ainda era analfabeto de idade mas, penso que foi aí que o meu pai se inspirou (só o meu pai é que sabia ler lá em casa) para atribuir o nome da rainha de França à minha irmã que se passou a chamar: Maria Antonieta.
Como não havia escolas secundárias próximas, nem dinheiro para livros, roupas, transporte e alimentação, aos 11 anos tive de ir trabalhar.
E assim me tornei pintor de medalhas, torneiro de madeira e cravador de jóias.
Desses tempos, ficou-me na memória o cheiro da madeira e, nos olhos, o brilho e o deslumbramento dos diamantes, das esmeraldas, dos rubis e das safiras.
Depois fui aprender música. Como não tinha escola nem conservatório perto de casa, fui aprender solfejo na Banda de Música de Avintes e passei a tocar um instrumento de percussão chamado Caixa.
Aos 18 anos aderi a uma organização de jovens trabalhadores cristãos chamada JOC – Juventude Operária Católica – onde aprendi a Ver, a Julgar e a Agir, o valor da solidariedade, o respeito por quem trabalha e onde despertei para a necessidade da minha própria valorização pessoal. Assim, aos 22 anos, iniciei os meus estudos secundários.
Aos 26 anos fui trabalhar como Empregado de Escritório para a Fábrica de Cerveja, em Leça do Balio, perto do Porto. (hoje chama-se UNICER). Trabalhei nessa fábrica durante 34 anos e desempenhei várias funções.
Como empregado de escritório ficou-me, também, a lembrança da escrita das letras apertadinhas que se aqueciam umas às outras e me garantiam o meu ganha-pão.
Agora, que sou numeroso em anos, a Fábrica da Cerveja convidou-me a descansar um bocadinho, e fez muito bem.
Sou casado e tenho três filhos e um neto que se chama Mário. Procuro passar para ele o gosto pelas coisas belas que se escondem por detrás de um gesto, de um afecto, de uma imagem, de uma história, de uma forma, de um sorriso ou de uma flor.
Em 1979, Ano Internacional da Criança, comecei a escrever histórias para os mais novos.
Como sou natural de Avintes, terra que é conhecida pela tradição da broa e do teatro, e como o meu pai foi actor amador e eu também, deixei-me influenciar pelos espíritos ancestrais do teatro e comecei a escrever pequenos textos e a encená-los em grupos de teatro não profissional.
Em 1983, tinha eu já 43 anos de idade, quando foi publicado o meu primeiro livro com duas peças de teatro: O Rei Lambão e as Pulgas e a Preguiça.
Depois, muitos grupos de teatro começaram a representar as minhas obras e eu, quando vou vê-las, sinto que é outra pessoa que as escreveu, tal é a sensação e o fascínio de ver as minhas histórias contadas com voz, acção, movimento, luz e cor.
Ao todo, escrevi 12 peças de teatro para crianças mas, só oito, estão publicadas. Cito alguns: Tizé Tizé, e o rato na Mánica, O Mandarim Fix-Xú, Na Feira dos Malandrecos e A Princesa dos Pés Pretos.
Depois, escrevi muitas outras histórias que tiveram a honra de chegar a livro. Até a este momento foram publicados cerca de 26 livros.
Gosto de todos os livros que escrevi mas, de todos, nomeio alguns para me acompanharem nesta informação que vos dou: Para Sonhar com Borboletas Azuis, O Nó da Corda Amarela, Quando os Olhos da Noite Mudaram de Sítio, Alzira, a santa suplente, A Fábula dos Feijões Cinzentos, O Rei Lambão e O Roubo da Roda Quadrada.
De todos os livros que escrevi, só três é que não são para os mais novos.
Para além de escrever criei, em 1998, em conjunto com mais treze pessoas, um Projecto para a Infância e Juventude chamado Ilha Mágica.
Nesse projecto ensinamos os mais novos a fazerem brinquedos, plantamos Árvores dos Sonhos, temos uma escolinha de Palhaços e outra de Contadores de Histórias, um teatrinho chamado Zaricoté e um Realejo que é um instrumento que toca música que vai directa ao coração das pessoas.
E pronto, contei-vos uma parte da minha vida para que saibam que o escritor é uma pessoa que transforma a vida que o rodeia em palavras e em histórias que mais não são do que as janelas do seu pensamento e o resultado das suas viagens de ida e volta ao Reino da Imaginação.
Tudo isto para que possas crescer por dentro, para que participes na beleza do mundo e para que sejas feliz, o mais possível.