Nasci no dia 3 de Abril de 1923, na Rua Capitão Leitão, 39, r/c esq. Freguesia do Beato em Lisboa. Gostava do colinho da minha mãe como podem ver.
Aos dezassete meses levaram-me a um fotógrafo que me colocou em cima de uma cadeira com piruletas que não estavam fixas. Tirei uma delas para brincar. Ele colocou-a no lugar pois, que, na foto ficaria mal uma cadeira “aleijada”...
Imediatamente fui buscá-la e a cena repetiu-se várias vezes... ( nessa altura eu já sabia o que queria) até que ele, como eu não desistia, tirou a foto, logo que, zangada, coloquei a mão sobre ela...
A mão não está ali por acaso...
Podem ver-me agora aos quatro anos com minha irmã, meus pais e avós paternos.
Aos seis anos fomos viver para Paço de Arcos, uma linda terra na linha do Estoril.
O meu primeiro dia de praia não me deixou boas recordações por que o meu pai me deu um grande mergulho. A aflição foi tão grande que, quando ouvia falar em ir à praia, escondia-me debaixo da cama... Prometeram-me que só iria à àgua se quisesse, e, assim perdi o medo e aprendi a nadar.
A minha avó paterna, Vó Teresa, contava-me histórias de Bruxas. Adormecia com certo medo, mas, na noite seguinte pedia-lhe que contasse mais...
Era o tal medo bom que faz falta às crianças...
Através da Cartilha Maternal, a minha mãe ensinou-me a ligação das consoantes com as vogais e assim aprendi a ler.
Adorava escrever histórias, e, na 4ª classe, a Professora Dona Maria do Ó lia-as em voz alta. Mas, todas se perderam, certamente nas mudanças de casa, pois que, só em Paço de Arcos vivemos em três diferentes.
Lia muito também, e, todo o dinheiro que me davam, gastava-o em livros.
Aos dezasseis anos li “ Cândido ou o Optimismo” de Voltaire que me ajudou, pois que, sempre que a vida me dava um safanão eu dizia:
- Ainda podia ter sido pior!
E enfrentava a situação.
Os meus pais escolheram para mim o Curso de Piano. Fiz particularmente o Curso Geral, e, o Superior, no Conservatório Nacional onde fui aluna do pianista Varela Cid. Mas, antes de o acabar, em 1946 casei e vim para o Porto. Tive dois filhos, mas apenas como esposa e mãe não me sentia realizada. Era uma simples espectadora da vida, que passava por mim sem eu fazer parte dela. Então, entrei na Faculdade de Letras, no Curso de Filologia Românica que fiz nos cinco anos ( agora são menos) dando aulas de francês à noite, no ciclo Preparatório. Depois da Licenciatura leccionei Português no Ensino Secundário até 1993, ano em que me aposentei. E leccionei com tanto entusiasmo que, ao longo do tempo, muitos alunos me disseram:
Eu não Gostava de Português e agora já gosto!
Tenho cartas amorosas de alunos, fotos dos filhos e, há dias, o Eduardo abraçou-me e beijou-me dizendo:
- “Ainda me lembro de coisas que nos dizia! Dava umas aulas glamorosas!”
Quem não fica feliz com tantas demonstrações de carinho?
Os meus livros para crianças e jovens começaram a aparecer na década de noventa. Tenho 11 publicados e outros para saírem.
Mas, a minha actividade literária não ficou por aí. Tenho trabalhos em livros “100 anos de Federico Garcia Lorca, Universitária Editora, 1998, ”Livro do Livro, Roma Editora 1999, “Histórias da Árvore dos Sonhos, Parque Biológico de Gaia/ Ilha Mágica”, em revistas, Rua Sésamo, Malasartes e Tripeiro, vários no Boletim dos Escritores de Gaia e, no Janeirinho.
As minhas participações em Congressos estão já publicadas nos respectivos Livros de Actas, com o meu verdadeiro nome.
Renata Gil é o nome literário que criei por Maria Sofia Dias Rodrigues ser “comprido” e Sofia Rodrigues ser vulgar.
Ao escrever para crianças tento provar-lhes que a vida tem coisas boas como o amor, a fraternidade, a possibilidade de cada um realizar os seus sonhos. Na opinião do Dr. Daniel Sampaio dialogo com a criança que me lê.
A literatura para crianças tem de ser luminosa e imaginativa, pois que, através da imaginação tudo pode acontecer. As histórias de Fadas e de Bruxas, segundo Bruno Bettelheim no seu livro Psicanálise dos Contos de Fadas, ajudam a curar-lhes traumas. A literatura para crianças não é de forma alguma uma literatura menor. Tem de ser igual à dos adultos ou ainda melhor, como afirmou Cecília Meireles.
Viajei muito. Conheço quase toda a Europa e uma parte de Marrocos. Agora, vivo para os meus filhos, para os meus netos e para a literatura. Não quero mais nada. Sou feliz.
Escrevo sempre (é o que mais gosto de fazer) e, através da escrita, a minha história continua...